“AQUILO QUE NUM TEMPO foi compreendido
num tempo foi esquecido. Ao ponto em que já ninguém se
apercebe de que a história não tem época. De facto nada
acontece. Já não existe o evento. Existem só notícias. Olhar
os personagens que chefi am os impérios. E arruinar o mote
de Espinoza. Nada a compreender, só a chorar, ou a rir”
Mário Tronti, La politica al tramonto
ACABOU O TEMPO dos heróis. Desapareceu o espaço
épico do conto que nos agrada contar e que nos agrada escutar,
que nos fala daquilo que poderíamos ser mas não somos. O
irreparável é agora o nosso ser-assim, o nosso ser-ninguém, o
nosso ser Bloom(1).
E é do irreparável que devemos partir, agora que o
nihilismo mais feroz passou para o lado dos dominantes.
Devemos partir porque “ninguém” é o outro nome de
Ulisses, e porque não deve importar a ninguém alcançar Ítaca
ou naufragar.
(1)Bloom (blum): origem desconhecida; 1 - Stimmung fi nal de uma civilização fechada
sobre o próprio umbigo e que não consegue distrair-se do seu naufrágio, a não ser
graças à alternância de curtas fases de histeria tecnófi la e de longos períodos de
abstinência contemplativa; 2 - Forma de existência crepuscular, apesar de comum,
dos singulares no mundo da mercadoria autoritária; 3 - Sentimento de ser póstumo.
4 - Acto de morte da política clássica; 5 - Acto de nascimento da política estática;
6 - A assumpção que determinou a formação de vários focos do Comité Invisível,
conjura anónima que, das sabotagens às sublevações populares, acabou por liquidar
o domínio mercantil no primeiro quarto do séc. XXI. “Os espectadores fi xam-se quando
o comboio passa” (K.)
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