Kaza Vazia

Enviado por ex0d0, qui, 2011-08-18 12:45

Belo Horizonte

 

O coletivo Kaza Vazia - Galeria de Arte Itinerante vem atuando em Belo Horizonte desde dezembro de 2005. Apesar de possuir um núcleo de artistas fixos é um grupo aberto, no qual parte de seus integrantes são eventuais. O coletivo trabalha com um sistema de ocupações efêmeras, fundado em uma estrutura flexível e em constante movimento.
 

Para ocupar a cidade, o grupo vale de uma gestão horizontalizada, diluída entre os diferentes membros. Unidos, os indivíduos engendram um sistema de colaboração e trocas de sabedorias.

 

Cada membro pensa de uma maneira e possui seu "ideal de Kaza Vazia". Assim como nas ruas, dentro do coletivo converge um dissenso de idéias e opiniões. Ele é uma utopia: cada integrante deseja algo, o que provoca a divergência interna. Poderiam se desmembrar, mas o que talvez os una seja exatamente o desejo de cada um defender seu ponto de vista. 

 

 

A Kaza Vazia iniciou sua trajetória detectando, documentando e arquivando espaços desocupados, e/ou vazios de Belo Horizonte. Seus primeiros integrantes passaram a fazer seus percursos mapeando a cidade em busca de imóveis privados e ociosos que poderiam ser transformados em espaço para a experimentação e a reflexão em arte, temporariamente. Desta maneira, o privado ocioso é ocupado e, logo, é incorporado ao público. Qualquer espaço privado é então potencialmente público, passível de ter seu esvaziamento pensado e de vir a ser ocupado pelos artistas andarilhos 'desocupados'.

Cada artista é seu próprio curador e decide, junto do coletivo, o que é ou não, em sua produção, digno de ser exposto e como ser exposto. Os 'kazeiros', como se chamam, fundam uma ocupação pensando a arquitetura e o espaço público como espaço de interação e convivência.

O "boato Kaza Vazia" se espalhou pela cidade entre os artistas de rua, grafiteiros e 'stikers'(coladores de adesivos), assim como os artistas vindos da Universidade. Na primeira ocupação da Kaza, foi possível encontrar em um mesmo espaço intervenções próprias das ruas se articulando com intervenções 'galerísticas'.

Em cada ocupação da Kaza há uma estratégia diferente de ocupação. 'Cada Kaza, é um caso'. A partir da escolha do local, os interessados se encontram periodicamente em discussões e análise do espaço. Definem-se aí estratégias que brotam das qualidades do lugar e o seu entorno urbano, fundando um processo de reconfiguração de um ambiente cujas propriedades já se encontram em trânsito constante. Sejam casarões abandonados, sejam vias públicas, os ambientes não existem totalmente vazios ou isentos de transformação, seja pela ação do próprio homem, ou pelas intempéries do tempo.

A Kaza Vazia é ao mesmo tempo um dispositivo de experiências de situações arquitetônicas, artísticas, sensoriais, políticas, sociais: um laboratório em movimento. Em suas ocupações, muitas vezes as obras se diluem na arquitetura e desaparecem: se torna difícil enxergá-las, ou diferenciá-las no espaço. O que é a 'obra'?

Kaza Vazia - Galeria de Arte Itinerante carrega em sua essência o cumprimento à divergência implícito na coletividade. Se configura como uma modalidade de ação que amplifica o potencial artístico do trabalho de cada indivíduo, colocando-o sempre sob novas bases e novas possibilidades de desdobramento. 

 

{do blog}

Sempre balizadas pela vivência de seus indivíduos com os problemas, soluções e as questões poéticas levantados, as ocupações da Kaza são uma forma de urbanismo, uma prática da cidade: dentro de casa.

{do blog do organismo, coletivo, agente...}

A Kaza Vazia não tem uma sede, uma galeria, ou um galpão. Na sua trajetória, ocupou diversos espaços que eram abandonados pouco tempo depois. Seus projetos são sempre ocupações temporárias. Apropriações de casarões abandonados (kv I, II e V), lojas comerciais (kv III), conjuntos habitacionais (kv IV), ruas (kv VI), parques (kv VII), mercados municipais (kv VII), casarões já ocupados (kv 8), apartamentos particulares (kv 613), comunidades ilegais de famílias (kv X) e arredores de instituições culturais (kv XI). Esses lugares passam a ser encarados como ideais para a produção/reflexão/mostra de arte e viram um centro de referência para incorporação das dinâmicas locais em processos artísticos, sejam elas de comércio, despejo, abandono, invasão, lutas sociais ou de passeio dominical. Por ser um grupo aberto, conta com diferentes pessoas, a cada edição, consolidando uma rotatividade de idéias, práticas e conceitos. Nesse sentido, é difícil definir uma natureza específica da Kaza Vazia, que não a de itinerância e movimento constante. Constituída por elementos flexíveis, a serem rearranjados a cada ocupação, a Kaza é a reunião de pessoas em volta de suas diferenças.

 


2011


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