{Referências de pesquisa: http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=1957}
Pensar uma ocupação sonora radiofônica na rua é pensar no sentido do espaço de fora, aquilo que não é privado e sim público. Esse é um aspecto desse trabalho, essa passagem do espaço privado, seja ele interno ou mesmo do atelier, para um espaço onde as pessoas lidam com objetos comuns, mobiliários urbanos, veículos, sinais.
Por ser um espaço muito diferente do cubo branco, ambiente esteticamente neutro em uma galeria ou museu tradicionais, a rua possui uma outra dinâmica e isso pressupõe outra atitude, onde não se trata de transferir o trabalho do atelier ou da galeria para a rua, mas de pensar toda a ação e a transmissão sonora especificamente para o ambiente, estabelecendo um jogo semântico com o espaço físico onde essa ação vai existir.
A transmissão radiofônica e a performance que ocorre no estúdio, compõem uma ação muito diferente do antigo métier artístico por não possuir um suporte permanente e depender de registros fotográficos e sonoros. Embora fuja de ser um produto, o trabalho quase sempre é visto e acessado por se tornar produto no formato de registro.
A parte que me interessa nesse espaço está no ar. A comunicação nesse meio também deveria ser pública, assim como o ar que respiramos, que é um bem natural, e não pode ser privatizado. O ar deveria ser um lugar como a rua, um espaço de afetos, onde as pessoas se encontram, mas as concessões políticas da administração pública determinam quem utiliza esse espaço e isso significa padrões que tendem a uniformizar o rádio, que fazem que esse meio permaneça limitado a um eterno monólogo ao invés do diálogo que ele possibilita. Ouvimos o rádio como uma voz que nos fala, mas nesse mesmo lugar podem haver várias vozes.
Com as concessões vêm os formatos que interessam aos monopólios, formatos que comunicam imediatamente, de primeira. Feitos para a massa. Como arte é sempre uma proposição, colocada nesse imediatismo fica deslocada, porque ali a coisa não foi resolvida de primeira, precisa que você coloque algo mais, precisa de você.
Diferente de uma propaganda imediata, a transmissão de rádio pode construir lugares, pontos de encontro, restituindo em parte esse meio como espaço de afeto e ação; as pessoas ao entrarem em contato com o rádio, ao transmitirem suas “vozes”, se emocionam pela distância que ele alcança fisicamente, e sempre se lembram de quando ouviam rádio. É certo que todos tem alguma coisa para dizer no rádio.
Cada meio que surge traz com ele características que são próprias e que podem ser utilizadas para a comunicação, que propiciam formas diferentes de falar e de ouvir. Devemos levar ao máximo os limites das mídias como ferramentas de comunicação, incentivando o surgimento de linguagens que renovem a forma de utilizá-las e estimulem a produção de subjetividade. Padrões e concessões não podem ser os instrumentos reguladores da criação nesses meios. A educação e a legislação precisam mudar, e pra isso é preciso aprender a ouvir outras formas de fazer rádio.
Para mudar isso, temos de formar produtores de rádio e não consumidores de tecnologia, buscar uma população de falantes tão grande como a de ouvintes. Isso é efetivamente apropriar -se da tecnologia. Essa também é uma idéia de formação de público para a arte consistente.
Meu trabalho com a rádio aberta é propor esse espaço imantado no meio radiofônico dividindo com todos as possibilidades dessa tecnologia, e mostrar que ele acontece dentro, fora de nós e “no ar “, ocupando provisioriamente a massa arquitetônica muda e permanente da cidade, com a paisagem sonora das linguagens que podemos gerar.