Texto

Subjetividade e coletividade: problemas de relação

Enviado por aarquivista, sex, 2017-12-22 00:01


Londres / São Paulo

{da introdução do texto}

(...) Subjetividade e poder: vínculos duplos

Que poderes possuímos, que poderes moldam o que somos? Para Foucault, a subjetivação – a criação e o devir de sujeitos – sempre ocorre em relação ao poder e segundo os campos de forças e de ação que sustentam a sociedade; é dentro desta e sob tensão que a subjetivação acontece. Ela significa, de fato, um duplo movi- mento: uma constituição pelo poder (sujeição ou objetivação) e um movimento de auto–configuração (por meio das técnicas de si mesmo). Desembaraçar esses modos diferentes de subjetivação é um processo difícil, pois em vez de se oporem claramen- te, eles fluem, todo o tempo, para dentro e para fora um do outro. Foucault diz que

Há dois sentidos para a palavra ‘sujeito’: um sujeito que está submetido a outro por meio de formas de controle e dependência, e um sujeito que está ligado à sua própria identidade por meio da consciência e do conhecimento de si.1Contudo, a subjetiva- ção–enquanto–objetivação ocorre tanto através do controle como da identifi- cação por outros e por si mesmo. Há identificação quando acolhemos o poder e o dirigimos a nós mesmos, conformando–nos a ele. A ligação a uma identidade  – inserindo um sujeito em um regime de classificação e dependência – capacita e ao mesmo tempo escraviza, pois nos torna visíveis aos discursos dominantes e às instituições de poder. Embora possa ser vivida de modo auto–consciente, a objetivação da subjetivação predetermina o processo de um devir, mantendo o sujeito em uma configuração reflexiva de si mesmo e oferecendo–lhe, com isso, uma saída fácil. E, de fato, muitas vezes precisamos de uma tal saída para viver- mos no mundo. Processos de subjetivação entram e saem da auto–reflexibilidade e da autoconsciência à medida que nos movemos por diferentes situações e fases. Um sujeito que se constitui a si mesmo nunca está inteiramente seguro de si, nem pode ser puramente reflexivo – embora possa ser estratégico e tático ao procurar escapar da identificação e ao conservar abertas as possibilidades de movimento.  (...)


2010



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