FILME
{do site do projeto}
O FILME “SÃO PAULO – POLÍTICA DO DISSENSO” Política do Dissenso é um retrato histórico e poético do centro da cidade de São Paulo, realizado por artistas, coletivos de arte e movimentos sociais, que criaram juntos um campo de conflito contra um estado de invisibilidade. Um momento em que novas estratégias de ação surgiram para distinguir o que não cabe no que é dado como consenso. Participaram deste processo: Nova Pasta, Catadores de História , BijaRi, Esqueleto Coletivo, Coringa, Elefante, ARNST, Contra Filé, Menossões, EIA, CMI, COBAIA, Frente 3 de Fevereiro, Cia. Cachorra, Artbr, TrancaRUa, Eliot e Sica, Movimento Sem Teto do Centro, Frente de Luta por Moradia, Comunas Urbanas, Bigodistas, Integração sem Posse.
{do site do projeto}
O que é o filme “Política do Dissenso”?
“Política do Dissenso” é um filme feito a partir de uma compilação de vídeos produzidos por artistas e cidadãos contendo trabalhos artísticos em vídeo e o registro de ações artísticas, poéticas e políticas que ocorreram de 2003 a 2006 quando inúmeros artistas, coletivos, psicólogos, sociólogos, arquitetos, músicos, grafiteiros, atores, cineastas, professores, etc. se reuniram junto a comunidades pertencentes a ocupações para produzirem um trabalho criativo coletivo conectado a necessidades reais da população das cidades, principalmente a Ocupação Prestes Maia, cujo despejo ocorreu em 15 de junho de 2007.
Como foi produzido?
A compilação foi feita pelo artista plástico Tulio Tavares, um dos que, junto com Fabiane Borges e Mariana Cavalcante, iniciou o processo de aproximação dos movimentos de luta por moradia, moradores de ocupação e comunidades dos artistas e outros cidadãos não-moradores de ocupações e interessados em se aproximar dessa realidade e conhecê-la, através de trocas de experiências diversas. Cada artista ou grupo produziu seu próprio vídeo, além daqueles produzidos por Túlio Tavares especificamente para o DVD, todos com recursos próprios e de maneira independente.
Como começou esse processo?
Existem inúmeras controvérsias a respeito de como começou e se desenvolveu o envolvimento dos artistas com as comunidades das ocupações e dos movimentos de luta por moradia. Diversos teóricos, artistas, moradores e integrantes dos movimentos escreveram textos e deram entrevistas (que podem ser encontradas nas mais de 10.000 ocorrências da internet quando se procura por Ocupação Prestes Maia, por exemplo) colocando seus próprios pontos de vista. Portanto, a idéia aqui não é produzir um texto contendo uma verdade absoluta e sim explicar, a partir de um ponto de vista, como tudo ocorreu.
Em dezembro de 2003 aconteceu, durante três semanas, o que já foi chamado de “Ocupação na Ocupação” ou “um ritual de interferência e celebração à vida” quando cerca de 200 artistas, entre eles Thiago Judas, Rochelli Costi, Regina Silveira, Eduardo Verderame e Paulo Climachauska através de suas próprias conversas e intermediações com os mais de 2.000 moradores da Ocupação Prestes Maia intervieram com trabalhos artísticos variados no prédio de maneira geral: casa de moradores, subsolo, escadarias, etc. no que recebeu o nome de ACMSTC (Arte Contemporânea no Movimento dos Sem Teto do Centro), além da produção realizada pelos próprios moradores como: desfiles de moda, feiras de artesanato, roupas e comidas típicas e apresentações de grupos musicais de Axé e Hip Hop.
A partir desse momento, muitas pessoas começaram a conhecer os moradores e naquela tão nova situação que surgia para tantos que nunca haviam entrado em uma ocupação, além de laços afetivos, interesses em comum e diferenças perturbadoras, passaram a estabelecer um desejo de continuidade de trocas e experimentações e ainda, uma sensação de possibilidade de criação coletiva e envolvimento mais profundo, que de fato foi acontecendo através de outros acontecimentos como as intervenções artísticas na Favela do Moinho e na Ocupação Guapira, ações contra o massacre de moradores de rua no centro em 2004 e o início dos sábados culturais na Ocupação Prestes Maia em 2005, quando aconteciam mostras de cinema, performances, criação e colagem de lambe-lambes, grafite, apresentações musicais, mesclando moradores e não-moradores da ocupação não só na criação, mas também no convívio.
O que aconteceu durante esses três anos?
Durante 3 anos, de 2003 a 2006, centenas de artistas e cidadãos se envolveram com a Ocupação Prestes Maia (entre outras como Plínio Ramos, Guapira e Paula Souza) em São Paulo, numa tentativa de conviver, aprender, trocar experiências e produzir ações artísticas ou não que se aproximassem mais da vida das pessoas e das questões da cidade e discutindo e chamando atenção para o enorme problema de moradia na cidade, além de outras questões que entrecruzam essa questão principal, como a revitalização do centro e seus meios gentrificadores.
Nesse período foram realizados sábados culturais onde mostras de filmes, performances, oficinas, jogos e diversos tipos de atividades aconteciam no subsolo do Edifício Prestes Maia, a então maior ocupação da América Latina, onde moravam 468 famílias, mais de 2000 pessoas, numa luta por moradia e vidas mais dignas, um símbolo de resistência frente a uma cidade segregadora. Além de inúmeras atividades em outros momentos, como aulas de alfabetização para adultos, oficinas de meta-reciclagem de computadores, criação de um cineclube com mostras de vídeos e filmes, realização de performances, pinturas, colagens e diversas outras manifestações culturais de criação coletiva, criação da Biblioteca pelo Seu Severino, antigo morador da ocupação, contando com apoio de vários moradores, artistas, num processo de integração e convivência, onde, também não deixaram de existir conflitos e dúvidas antes inimagináveis, que só a convivência, muitas vezes diária entre moradores e não-moradores da ocupação poderia trazer.
Sobre a Ocupação Prestes Maia, o edifício, os antigos moradores e o Movimento dos Sem Teto do Centro
Nos anos 50, o edifício de trinta e cinco andares localizado na Av. Prestes Maia n º 911, abrigava uma fábrica de tecidos. Propriedade do vereador Jorge Hamuche e de Eduardo Amorim, devem R$ 5 milhões de IPTU (valor maior que a própria avaliação feita para o valor do prédio) para o governo ficou abandonado por 12 anos até passar a abrigar as 468 famílias através da ação do MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro). Após o despejo em 15 de junho de 2007, alguns moradores, em sua maioria catadores de material para reciclagem, direcionaram-se temporariamente para outras ocupações, até começarem a ser direcionados para casas na periferia e no centro entregues aos ex-moradores da Ocupação Prestes Maia pelo governo federal. Cerca de 150 desses moradores foram para o projeto CDHU/COHAB em Itaquera ao lado da Vila Prestes Maia.
Milena Durante
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