ARTIGO publicado originalmente em http://9s.descentro.org/tecnomagia
e também na revista Periódico Permanente (número 2) do Fórum Permanente, editada por Cristina Ribas em 2013
http://www.forumpermanente.org/revista/numero-2/textos/tecnomagia
{da introdução do texto}
"O presente artigo pretende combinar uma abordagem sobre o histórico movimento de rádios livres no campo da comunicação social à prática de metareciclagem que se realiza no âmbito das tecnologias digitais. Embora separadas por décadas, a junção de ambas se mostra oportuna justamente por destacar elementos conceituais que me parecem centrais na construção de um pensamento sobre a tecnomagia. Se uma tal relação nunca foi estabelecida, até onde sei, espero explicitar tanto as razões para esta dificuldade quanto as possibilidades que esta aproximação pode suscitar.
O advento das rádios livres nunca foi bem compreendido no campo da comunicação, seja porque eram entendidas sob uma ótica da inconsequência política, seja porque rádios livres se opõem frontal e conceitualmente à constituição do campo da comunicação como autônomo em relação à sociedade. Dito de outra maneira: enquanto o direito à comunicação se tornou uma bandeira defendida por uma casta específica de representantes que dão vazão às demandas sociais do regime democrático, rádios livres são experiências de livre expressão das pessoas, de quaisquer pessoas, capazes de desviar o uso dos meios para os fins pré-programados que a cultura hegemônica lhes atribuiu. Se a função dos representantes da comunicação é manter a forma de produção do discurso social, buscando alimentar a forma mais justa de respeitar os distintos grupos sociais, a missão das rádios livres é causar um curto-circuito neste sistema e, rompendo com uma tal pluralidade controlada, exprimir sua cultura como potência da diversidade, efetiva e livre.
Mas no que este curto-circuito se relaciona com a metareciclagem?"
{da conclusão}
"O objetivo deste texto, entretanto, pretende prestar uma contribuição inovadora sobre este processo. Interessa-me tentar definir como metareciclagem uma metodologia que cria um campo sensível como relação tecnomágica, campo este estabelecido não a partir de qualquer ocultismo ou misticismo sobre a técnica, mas pedagogicamente construído na relação de montagem e desmontagem de elementos e conjuntos técnicos que compõem a reciclagem e o funcionamento de computadores. Assim como já tratamos da construção de transmissores gerando autonomia e trabalhando a sensibilidade humana na relação com a técnica, um projeto análogo ocorreria com a metareciclagem. Muito próxima da tecnomagia estaria então a técnoestética, conceito desenvolvido por Gilbert Simondon que abarca como entendimento artístico algo além da criação de objetos sagrados. Como diz o filósofo:
“[A tecnoestética] não tem como categoria principal a contemplação. É no uso, na ação, que ela se torna de certa forma orgásmica, meio tátil e motor de estímulo.” (…) “A arte não é apenas objeto de contemplação, mas de uma certa forma de ação, que é um pouco a prática de um esporte para aquele que o utiliza.” (Simondon 1998: 256, 257)."