Pesquisa, institucionalidades e articulações estético-políticas

Enviado por aarquivista, seg, 2018-08-06 17:33


Porto Alegre

Proposta de disciplina para PPGAV-IA-UFRGS 2018

Título da disciplina

Pesquisa, institucionalidades e articulações estético-políticas

 

Ministrante

 

Dra. Cristina Thorstenberg Ribas

 

Carga Horária 45h/aula

15 encontros de 3h cada

 

Ementa e objetivo

 

A disciplina discute práticas de pesquisa e produção do conhecimento em relação com produções estéticas e curatoriais articulando-as a teorias e práticas que reconceitualizam a noção de pesquisa e adotam a perspectiva da processualidade em relação à produção de subjetividade. É endereçada a pesquisadores dos campos da curadoria, da história teoria e crítica, a artistas e mais estudantes e profissionais de outras áreas. Vamos olhar com atenção para a “crítica institucional” (Fraser, 1996; Sheikh, 2006, 2009) e criar linhas de análise com conceitos desenvolvidos por Félix Guattari (1992) em relação à pesquisa e à militância, e como ele propunha uma articulação entre estética, política e instituições. Também vamos estudar a “análise institucional” (Lourau, 1992; Guattari, 1987; Rodrigues, ), desenvolvida desde os anos 70 em diversas instituições acadêmicas e observar que contribuições ela traz para a pesquisa e para a crítica institucional, também no que concerne um pensamento renovado sobre processos grupais e institucionais e suas intersecções com a produção estética. As produções estéticas que vamos estudar são projetos, iniciativas, espaços e plataformas auto organizadas, bancos de dados e agenciamentos da produção na internet, assim como redes de produção que articulam pesquisa, estética e política criando novas formas de realização, produção historiográfica, institucionalização e realização da arte contemporânea, também em transversalidade com outras práticas e campos do conhecimento. A disciplina quer pensar contemporaneamente a pesquisa acadêmica, difundindo produção teórico-prática sobre a processualidade da criação e da subjetivação na produção do conhecimento, enfrentando capturas e impasses da atualidade.

 

Método e avaliação

Como estratégia de ensino a disciplina dispõe de aulas expositivas dialogadas, realização de seminários, análise e discussão de projetos de pesquisa das e dos pós-graduandos. A avaliação do processo será dada por meio da participação e da integração das alunas e dos alunos com o tema da disciplina, através da apresentação comentada de textos e produção de relatos críticos considerando os temas tratados em aula. Sugiro a realização de três relatos críticos (até duas laudas) ao longo das 30h de aula (um a cada três semanas, em média).

Se fizer parte da estrutura do PPGAV uma avaliação final da disciplina, proponho às alunas e alunos escreverem relatórios ou cartografias parciais de sua pesquisa em relação ao tema da disciplina (formato de artigo ou em formato de narrativa pessoal, até 12 laudas), e se possível a concepção de um projeto ou processo-piloto que permita uma articulação produtiva entre pesquisa em arte, produção do conhecimento e processos de subjetivação.
 

Programa das aulas
 

Aula 01

Apresentação do curso de noções de pesquisa que emergem de atualizações institucionais a partir da filosofia pós-estruturalista e do encontro entre análise e crítica institucional. Perspectivas do norte global e do sul global. Passagem sobre autores de referência. Escuta dos interesses das e dos participantes.

Aula 02

Introdução ao trabalho de Félix Guattari e junto de Gilles Deleuze e a noções de estética e política em relação à subjetivação, à militância e à pesquisa. Contribuições da filosofia contemporânea no pensamento de práticas artísticas, desde a arte minimalista, conceitual, processual e contemporânea e contribuições da arte para o desenvolvimento da filosofia pós-estruturalista. Relações entre pesquisa e produção estética. Atualizações dessas perspectivas contemporâneas a partir do norte global: Brian Holmes, Simon O'Sullivan, Claire Bishop.

Aula 03

Transversalidade, Caosmose e Três Ecologias. O “paradigma ético-estético” e os “agenciamentos coletivos de enunciação” de Guattari e suas proposições transversalistas. Contexto francês e participação de Guattari em movimentos organizados na França (CERFI, FGERI, entre outros) e na criação de grupos transversais de pesquisa (Revista Recherches). Quais são as proposições de Guattari para as instituições? Como Guattari pensou os processos de subjetivação em relação às instituições e modos instituintes? Como Guattari pensou a produção estética em relação à produção de conhecimento, pesquisa e militância?

Aula 04

Difusão da cartografia esquizoanalítica no Brasil. O trabalho de Suely Rolnik e de Peter Pál Pelbart no Núcleo de Subjetividade da PUC e na saúde mental. Programas de pós graduação em psicologia clínica e social em universidades públicas no Brasil. Que transversalidades são propostas aí? Que modificações da estrutura institucional se operam? Que novas metodologias? Que propostas surgem em relação aos processos grupais e institucionais? Qual a participação dos processos estéticos nesse arranjo institucional e de produção do conhecimento?

Aula 05

Contexto do norte global, relações e proposições institucionais. Hans Haacke, o grupo de Nova Iorque, Black Mountain College. Aprendizagens a partir de Michel Foucault na concepção da sociedade de controle e proposições que surgem: artistas, configurações institucionais, historiografias. A crítica institucional de Andrea Fraser nos anos 90 e dez anos depois. Como se pode pensar esse contexto em relação à América Latina? Que sincronicidades ou diacronias?
 

Aula 06

Pesquisa em arte, arte como pesquisa. Produção teórica e prática do norte global. De Marcel Duchamp a Art & Language. O trabalho teórico e institucional de Simon Sheikh. As proposições de Jakob Jakobsen a partir da anti psiquiatria: non-knowledge, anti-history, hospital-prison-archive-university. Quais outras proposições emergem? Que propostas surgem aí entre pesquisa e produção estética, e ainda – produção de conhecimento? Que diferenças com o contexto brasileiro e latino americano?

Aula 07

Redes de produção do conhecimento e militância pelo direito à educação superior. Abertura de relações transversais entre instituições e iniciativas auto-organizadas, estudo coletivo do contexto Europeu e redes européias e Latino Americanas. Estudos de Caso: Edu-factory (Europa) e Rede Universidade Nômade (Brasil). O que está em jogo com a privatização do conhecimento? De que maneira o paradigma ético estético e a transversalidade em Guattari vão recolocar esse problema?

Aula 08

A produção de um artista-etc., e entre eles, de um artista-pesquisador. O trabalho teórico-poético de Ricardo Basbaum. De que maneira o artista abre novas funcionalidades e gera efeitos no circuito e no campo da arte e afins? De que maneira se pode atualizar a figura do artista-pesquisador? Quais as articulações e proposições de Basbaum na articulação entre produção estética e do conhecimento? Quais limites se apresentam? Como ultrapassar esses limites?

Aula 09

Produção de arte no Brasil do final da década de 90, o ciclo dos coletivos, a re-tomada do espaço público e os espaços de produção coletiva. O que foi esse ciclo? O que ele trouxe de crítica e de contribuição ao circuito de produção de arte? Que iniciativas de pesquisa e inserção crítica e historiográfica surgiram junto e após esse ciclo? A Revolução não será televisionada, Coletivos no Prestes Maia, Rejeitados e mais.
 

Aula 10

Redes de co-produção e pesquisa. De que forma as redes repensam estruturas institucionais e criam novas formas de cooperação entre pesquisadores? Estudos de caso: Mídia Tática Brasil, Digitofagia, Submidialogias e outros festivais de produção ativista, de arte, e de mídia. Redes e coletivos de artistas dos anos 2000 a partir da perspectiva da co-produção e da articulação entre produção de conhecimento e produção estética.

Aula 11

Mais sobre redes e co-produção de mídia e internet no Brasil. Que pesquisas relacionam essa produção com a arte contemporânea? Que passagens de saber, que práticas elas instituem e em diferença a que formas e normas da produção autoral e do circuito institucional de museus e galerias? Leitura de textos de autoras envolvidas no contexto de produção de ferramentas, internet e software livre, tais como Giseli Vasconcellos e Fabiane Borges. A pesquisa de Ana Maria Maia.

Aula 12

Projetos de arquivo, memória, produção e agenciamento de conhecimento sobre práticas artísticas e análise institucional. A trajetória do Arquivo de emergência ao Desarquivo.org. E outros projetos e iniciativas de pesquisa. A Red Conceptualismos del Sur [http://www.redcsur.net], rede de pesquisadores trabalhando com arte conceitualista e pós-conceitualista da América Latina e de artistas latino americanos. De que maneira essas redes e plataformas se colocam como novas instituições e estabelecem novas éticas de produção e pesquisa?

Aula 13

Outros projetos recentes no Brasil que tem gerado plataformas de produção de saber comum nas linhas da transversalidade, da análise institucional e do pensamento pós colonial e de colonial. Levantamento coletivo junto aos alunos. Reflexões sobre metodologias possíveis de pesquisa e produção.

Aula 14

Seminário de apresentação das e dos participantes, considerações finais da disciplina.

Aula 15

Seminário de apresentação das e dos participantes, considerações finais da disciplina.

*

Bibliografia

(para ser atualizado, também conforme o calendário de aulas)

 

Barros, R. B., e E. Passos, 2009. “A cartografia como método de pesquisa-intervenção”. Em: Escossia, L; Kastrup, V; Passos, E. (org) Pistas para o método da cartografia. p. 28.

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Basbaum, R., 2007. Além da Pureza Visual. Porto Alegre, Editora Zouk. ________, 2008. “O artista como pesquisador”. Em: Concinnitas No. 9. Rio de Janeiro, Instituto de Artes/UERJ.

Basbaum, R. Manual do artista-etc. Rio de Janeiro: Ed. Azougue, 2013.

Belisário, A. E Borges, F. Ideias Perigozas. Submidialogias. São Paulo: (Des)Centro, 2009.

Borges, Fabiane. Domínios do Demasiado. São Paulo: Editora Hucitec, 2010

 

Crabbé, O., Muller, T. And Vercauteren, D., 2011, Micropolíticas de Los Grupos: Para una Ecología de Las Prácticas Colectivas. Madrid: Traficantes de Sueños

 

Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.

Escobar, C., 1974. "As instituições e o poder". Em: As Instituições e os Discursos. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro. (p. 3-33)

Escossia, L; Kastrup, V; Passos, E. (org), 2009, Pistas para o método da cartografia. Porto Alegre, Sulina.

Foster, H, O Retorno do Real. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

Fonseca, T. M. G., Nascimento, M. L. and Maraschin, C., (ed.) 2012, Pesquisar na diferença: um abecedário Porto Alegre: Sulina

Freire, Cristina e Longoni, Ana (org.). Conceitualismos do Sul/ Conceptualismos del Sur. São Paulo: Annablume / MAC-USP, 2009

 

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Rolnik. S. et al. 1998. Subjetividade Contemporânea – GT 33. VIII Simpósio Brasileiro de Pesquisa e Intercâmbio Científico. Available here: http://www.infocien.org/Interface/Simpos/An08T42.pdf [Access March 15th 2014]

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Sheikh, S., 2006. “Notes on Institutional Critique”. (artigo) Disponível em <http://eipcp.net/transversal/0106/sheikh/en> [acessado 15/05/2014]

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Shukaitis, S & Graeber, D. (ed.), 2007. Constituent Imagination: Militant Investigations // Collective Theorization. Oakland/London, AK Press
 

Sites e plataformas (para ser atualizado)

Desarquivo.org

http://www.desarquivo.org

Midiatatica.info

http://www.midiatatica.info/

Rizoma.net

http://desarquivo.org/node/1232

Universidade Nômade

http://www.uninomade.net
 

Vídeos (para ser atualizado)

Félix Guattari, Entrevista (1h 15')

https://www.youtube.com/watch?v=E9jwK0_eDds

 

La Borde ou le droit à la folie (filme) (original francês, legendas em francês)

https://www.youtube.com/watch?v=iDh6mMTqORQ

 


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